Biografia de Eduardo Dias Coelho

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce.

Fernando Pessoa (*)

Eduardo Dias Coelho nasceu na cidade de Santos, estado de São Paulo, em 16 de outubro de 1915, filho dos portugueses Antônio Dias Coelho (Figueiró dos Vinhos) e Adelina da Encarnação Coelho (Miranda do Corvo).

Em 1925, com a mudança da família para Portugal, inicia os estudos do ciclo básico nas cidades de Coimbra e Lousã. No ano de 1926, volta ao Brasil e completa, em 1928, o ciclo no Colégio Santista, de orientação marista. No mesmo estabelecimento, termina o ensino médio em 1933.

Pela vontade de ser médico, pela inexistência de uma faculdade de medicina em Santos e pelo fato de possuir familiares no Rio de Janeiro, ingressa, em 1934, na Faculdade Fluminense de Medicina, em Niterói (hoje unidade da UFF). Em 1936, transfere-se para a Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro (hoje UNIRIO), formando-se em médico em 1939. Ainda estudante, exerce o cargo de monitor auxiliar de técnica cirúrgica.

Em 1938, torna-se interno da Segunda Cadeira de Clínica Cirúrgica da Escola de Medicina e Cirurgia do Rio de Janeiro, por concurso, cujo titular era, à época, o renomado Professor Augusto Paulino Soares de Souza. De 1934 a 1940 trabalha na 15ª Enfermaria da Santa Casa de Misericórdia do Rio de Janeiro e, na condição de interno, da Clínica Obstétrica desta mesma casa. Trabalha também como interno no Instituto Cirúrgico Paes de Carvalho e na Maternidade São Cristóvão. Sua vida no Rio de Janeiro fica marcada definitivamente quando conhece a carioca Maria Fernandes Luzio, com quem se casa. O casal transfere-se para a cidade de Santos, SP, em 1941, onde nascem seus três filhos: Eduardo Antônio, Marco Antônio e Luiz Antônio.

Torna-se membro do corpo clínico da Santa Casa de Misericórdia de Santos, fundada pelo Padre Anchieta, sendo a primeira das Santas Casas do Brasil. Tem uma longa e profícua carreira como médico e fica conhecido na cidade por Dr. Coelho.

O amor pelo Brasil, por Portugal e seu idealismo fizeram com que criasse, juntamente com personalidades da comunidade luso-brasileira da cidade, o Elos Clube, entidade marcada para divulgar e promover a cultura luso-brasileira. A corrente Elos Clube prosperou, expandiu, e vários outros Elos foram criados por todo o Brasil, principalmente nas capitais, chegando ao velho continente e passou a denominar-se Elos Clube Internacional, entendendo-se à África e China.

O desejo aparentemente adormecido de ver médicos formados em sua cidade natal despertou e o Dr. Coelho batalhou e criou, sempre ladeado por idealistas instituidores, a Fundação Lusíada, entidade mantenedora da Faculdade de Ciências Médicas de Santos. Internado no Hospital da Sociedade Portuguesa de Beneficência de Santos, da qual era presidente, o Dr. Coelho faleceu em 21 de fevereiro de 1983 na ala que leva seu nome.

Dr. Coelho foi, também, um homem de ação social. Criou um espaço de atendimento médico gratuito na região de Praia Grande, no litoral de São Paulo, entre este estado e o Paraná, onde acolhia e consultava, nos finais de semana, populações de caboclos e de comunidades originárias.

Amante da leitura, o Dr. Coelho organizou uma excelente biblioteca de Literatura Luso-brasileira e de Arte. Ao mesmo tempo, sua geração passou a dividir o lazer pelo livro com o lazer pelo filme. Passou a documentar, primeiro em 8mm e depois com uma Paillard Bolex em 16mm, a vida da família e a registrar suas viagens. Ele e sua esposa frequentavam as salas de cinema de seu bairro semanalmente. Caminhavam até o Cinema Avenida e Cinema Campo Grande, depois Ouro Verde. Ao se mudarem para um bairro próximo da praia, passaram a frequentar os cinemas Roxy, Gonzaga, Atlântico, Indaiá, Iporanga e outros na região da orla atlântica de Santos. No Rio de Janeiro, frequentava os cinemas do centro – Cinelândia –, Tijuca e Praça Tiradentes. Seus estilos cinematográficos preferidos eram o suspense e os westerns americanos.

Já sua esposa, era aficionada em filmes de terror a ponto ao ler e dramatizar para seus três filhos antes de dormir, entre outros, o livro “Os mais belos contos terroríficos”, de vários autores, editado pela Vecchi. Diga-se de passagem, que nenhum deles cresceu com medo de fantasmas ou lobisomens nem teve pesadelos com essas figuras ameaçadoras.

(*) Dr. Coelho sempre teve por mote o primeiro verso do poema Infante, da segunda parte de Mar português, no complexo livro Mensagem: poema épico-lírico, elaborado ao longo de 21 anos, de Fernando Pessoa.

Texto fornecido por Eduardo Antônio e Luiz Antônio, filhos do Dr. Coelho.

Dr. Coelho e esposa à direita e seus três filhos à esquerda. Dr. Coelho era
correspondente do jornal “A regeneração”, publicação de sua terra natal.

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