Biografia de Estevão de Luna Freire

Estevão de Luna Freire nasceu em 1950, no subúrbio do Rio de Janeiro. Era o terceiro dos cinco filhos de Maria das Neves e Claudio Fernandes. Começou a trabalhar aos 14 anos, como datilógrafo, e ingressou na Escola Técnica. Em 1970, já formado como técnico mecânico, foi contratado pela Cobrapi, subsidiária da Companhia Siderúrgica Nacional, e mudou-se para Volta Redonda, onde se casou com a estudante de medicina Maria Martha Vidigal Movschowitz (que adotou o nome de casada Maria Martha de Luna Freire) e tiveram seu primeiro filho, Pedro, nascido em 1974. Nesse período, concluiu a graduação em Engenharia Civil em Barra Mansa.

Estevão sempre teve interesses múltiplos e praticou teatro, desenho, pintura e literatura. Seu interesse por cinema se iniciou com a fotografia aos vinte e poucos anos: “Tinha comprada uma excelente [câmera] reflex Pentax, mecânica, com todos os ajustes manuais de abertura e velocidade, o que me permitia fazer excelentes fotografias. Daí passei a me interessar pelo Super 8, devido à possibilidade de realizar pequenos filmes e editá-los. Inicialmente comprei uma série de livros sobre Super 8 e daí fui comprando os equipamentos: a filmadora muda, o projetor, o editor, iluminação”.

Estevão começou a filmar em 1977, quando retornava ao Rio de Janeiro, onde nasceu sua filha Leticia. No ano seguinte, o parto de Isabel já foi filmado em Super 8.

Segundo suas lembranças, os equipamentos não eram baratos, mas os preços também não eram proibitivos: “A minha segunda filmadora foi realmente muito cara, algo como 900 dólares (início dos anos 80) que encomendei de um colega irlandês que retornava da Europa”. A maior parte de seus equipamentos, porém, era de fabricação japonesa, de marcas comuns no mercado brasileiro como Sankyo, Takita, Yelco e Fuji.

O processo de filmagem era trabalhoso, mas prazeroso: “Eu editava os filmes, cortando e colando fisicamente, e quando estava pronto levava à loja para colocação da trilha sonora. Com o projetor podia fazer a gravação usando um microfone externo. Desta forma, o filme completo tinha também som. Não era muito fácil sincronizar o som com a imagem, o processo era muito primitivo”.

Estevão se lembra de desprezar uma grande parte do material filmado durante a edição “para não deixar o filme chato para o espectador”. Os filmes eram, sobretudo, sobre e para a família: filmagem de visitas ao Zoológico ou à casa dos avós, além de temas clássicos dos cineastas amadores brasileiros como aniversários, viagens, carnavais e festas juninas. Ainda assim, experimentou diferentes técnicas (filtros coloridos, filmagem acelerada, animação em stop motion, som direto, narração e companhamento musical) e gêneros (ficção e documentário, filmes de viagem, técnicos, médicos e educativos).

Trabalhando na Montreal Engenharia, no final de 1978 foi transferido para São Roque do Paraguaçu, na Bahia, junto com parte da equipe de construção da primeira plataforma offshore (Garoupa) que seria instalada na Bacia de Campos. Continuou operando o Super 8 e, numa experiência mais profissional, realizou filmes sobre seu trabalho: “O filme sobre a Construção de Garoupa, primeira plataforma construída no Brasil, foi um grande sucesso. A Montreal me pagou pelo filme e ainda encomendou mais cópias. Cheguei a fazer uma projeção no canteiro durante a visita da gerência da Petrobras no canteiro de São Roque, com a sala lotada. Depois a Montreal resolveu fazer um filme profissional, contratando uma empresa, que o realizou em 16mm, para apresentação em feiras e outros eventos”.

Estevão filmou ainda um documentário em Super 8 em Maragogipinho (BA) intitulado “Cerâmica do Recôncavo” (1980), que chegou a ser exibido no Festival Nacional de Cinema de Aracaju. Com a esposa, médica sanitarista, realizou um documentário sobre aleitamento materno (“Amamentar é amar”, 1979), com roteiro da Dr. Martha e entrevistas com mães de diferentes classes sociais.

As filhas de Estevão, Leticia e Isabel, com a caixa do editor de filmes Super 8 ao fundo, no armário (São Roque do Paraguaçu, BA, 1979)

Seus últimos filmes, que incluem animações (“O azul e o preto”, 1978), foram feitos na Bahia antes de retornar ao Rio de Janeiro, em 1982, quando a família foi morar em Niterói. Seu quarto filho, Rafael, nascido em 1980, se lembra de projeções em Super 8 que o pai ainda continuou a fazer, embora mais raramente, de desenhos animados do Pica-Pau, entre outros.

Em 1986, Estevão e Martha se separaram. Estevão se casou posteriormente com Maria Helena Costa Moura, tendo seu quinto filho em 1990, Estevão Luís. Com a crise no Brasil, recebeu oferta de emprego e se mudou para a Itália, passando a trabalhar na multinacional Saipem e atuando no planejamento, construção e operação de plataformas de petróleo em diversas partes do mundo. Já aposentado, continua vivendo na Itália.

Estevão e os filhos Pedro, Isabel e Leticia, em São Roque do Paraguassú, BA, 1979

Texto de Rafael de Luna Freire com informações fornecidas por Estevão de Luna Freire.

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